010 - Um pouco de Conceito sobre Retratos - Resenha A Câmera Clara - 041106

A Câmera Clara - Roland Barthes resenha
encontre o livro: https://l1nq.com/R9eGJ

No capitulo cinco de seu livro “A Câmera ClaraRoland Barthes descreve o sentimento que é compartilhado por ele e por muitos de nós, simples mortais não “bundcheanos” da estranheza que nos é causada ao sermos fotografados, o ato em si (a câmera apontada para nós) que geralmente nos intimida e a reação normalmente insatisfeita ao vermos o resultado final que na maioria das vezes não nos agrada, nunca parecemos com nós mesmos, sempre achamos defeito em nossa imagem, uma boca torta, um olho caído, uma sombra sob os olhos, que na verdade é aquela olheira que não nos abandona nunca, enfim não nos vemos como somos e procuramos sim nos ver como gostaríamos de ser,

“Diante da objetiva sou ao mesmo tempo: aquele que me julgo, aquele que eu gostaria que me julgassem, aquele que o Fotógrafo me julga e aquele de que ele se serve para exibir sua arte. p27”

Permanecer linda mesmo fazendo caretas,
isso é só para os bundecheanos

Um ótimo exemplo disso ao meu ver é a febre das câmeras de celular, onde principalmente as adolescentes e mesmo os pós-adolescentes e porque não dizer marmanjos em geral conseguem acabar com toda e qualquer memória de armazenamento de seus “espelhos digitais”, pois é o que ficam parecendo os celulares, de tanto que se autorretratam e automaticamente visualizam a foto para em seguida deletarem, apagarem pois não mostrou aquilo que queriam ver.
Aquele dia em que acordamos nos achando a pessoa mais linda do planeta, cabelo perfeito, olhos brilhando, sorriso impecável...
Isso é o que nós vemos, o restante da humanidade continua a nos ver como somos todos os dias, lindos ou não, mas que nossa autoestima insiste em supervalorizar. O pior é quando ocorre o contrário, acordamos nos achando horríveis, porque nossa autoestima resolveu nos derrubar nesse dia.

Quando nossa Autoestima colabora conosco

Barthes também nos chama atenção para um outro aspecto que muito se discute mas que ainda não se tem um consenso, apesar de leis que garantem tanto o Fotógrafo como o retratado, “O Direito da Imagem”,  https://l1nq.com/IsqBT

“Inúmeros processos, segundo parece, exprimiram essa incerteza de uma sociedade para a qual o ser baseava-se em ter. p26”

A quem pertence um retrato ou um instantâneo? Ao Fotógrafo que conseguiu através de seu equipamento e de sua maravilhosa técnica obtida após longos estudos de iluminação, designer, mestres da arte, locações, etc ou ao simples mortal que lhe serviu de modelo? Ou mesmo ao proprietário daquele simpático restaurante que serviu de fundo para o magnífico clique?
Hoje os profissionais da imagem tem como moralmente correto obter a autorização de seus retratados e de seus locadores para a divulgação de uma imagem, mas e o Fotógrafo amador, o turista, que eventualmente capta através de suas câmeras pontos e pessoas desconhecidos que nem ao menos sonham que estão sendo guardados em um pequena pasta de algum notebook qualquer ou em uma página de Rede Social? Sendo divulgados pela internet sem o menor pudor.

“A vida privada não é nada mais que essa zona de espaço, de tempo, em que não sou uma imagem, um objeto. O que preciso defender é meu direito político de ser um sujeito. p29”

A primeira edição de A CÂMERA CLARA é de 1980, portanto anterior ao advento do mundo digitalizado como conhecemos hoje, algumas de suas colocações podem nos parecer exageradas ou descabidas como a associação da fotografia com a morte,

“… vivo então uma micro experiência da morte (do parêntese): torno-me verdadeiramente espectro. p27”

mas com certeza são reflexões que nos levam a ter uma melhor compreensão de como devem ser tratadas as questões relacionadas à fotografia e como profissionais devem pensar e agir em relação a essas questões.

*Para ter uma amostra de alguns dos maiores Fotógrafos da história, se inspirar, além de ver que muitas vezes a simplicidade está acima de questões técnicas acesse: https://www.sony.com.br/alphauniverse/stories/los-mejores-fotografos-documentales-de-todos-los-tiempos

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